As vezes é preciso ter conversas difíceis e desconfortantes para que as coisas fiquem confortáveis, não há outra maneira – disse a si mesma.
A cidade fazia barulho lá embaixo. A mente turbulenta também.
O corpo essa manhã havia acordado com dor, havia sangue entre os lençóis. Levantou, tomou um banho e colocou a roupa de cama para lavar. Penteou os cabelos, almoçou, tentou ter uma conversa mas estava a avessas e quis chorar.
– Não quero mais falar sobre política e nem de mais nada.
– Por que?
– Estou deprimida, com dor e cansada.
– Ficaremos em silêncio então?
– Não tenho mais nada a dizer, então sim, eu ficarei em silêncio.
Deitou na cama e colocou um filme clichê romântico na Netflix, escolheu um em que tinha uma paixonite por um ator específico só para ver como ele beijava a outra atriz na boca. Queria entrar numa realidade da fantasia por duas horas que fosse.
A vida é uma coisa engraçada, não existe botão de pausa. Ela acontece. Ela tá acontecendo agora nesse momento enquanto digo tais palavras. Ela acontece enquanto dormimos e vamos viver no mundo dos sonhos (e as vezes voltamos de lá com grandes ideias). Ela acontece mesmo quando queremos que ela se desintegre. Viver é o que viemos fazer aqui. Esse é o sentido da vida, viver.
A morte é só uma passagem para outra…vida.
Uma das coisas que a mulher sentada na sacada verde gostava da vida era, o momento antes do primeiro beijo, os segundos antes em que sabemos que irá acontecer e vamos de encontro ao primeiro toque físico íntimo.
Para o homem que passava logo abaixo da sacada era, pegar o carro e cair na estrada sozinho pois assim ele podia cantar sem que ninguém pudesse ouvir. Se sentia livre dessa forma.
Talvez a vida seja mesmo muito boa, a gente só precisa tomar consciência de pequenas bobagens que tanto gostamos em fazer.